sexta-feira, 21 de setembro de 2007

No Frio.

No frio, meu corpo treme.
E minhas mãos brancas, minhas unhas roídas
São mesmo o meu retrato.
É assim que sou: vara fraca e carcomida
Que se curva, submissa
Sob a chuva que se impõe.

No frio, meu versos gotejam
Escorrem pelo meu rosto,
Meu corpo,
E se espalham sobre o chão.
Desaparecem, umidamente.

No frio, meu pensamento se dilui,
Se confunde, se perde, se cala.
E eu continuo aqui
Sentindo o vento gelado me adormecer as mãos e a vida
Sem saber ao certo o que fazer.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

...

Já não há areia no meu cabelo
Nem calor ao meu redor
A cidade estrangeira ficou para trás.
Em mim, há saudade e silêncio.
Nada mais
.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Sem Mim.

Falto.

Faltam as palavras, e também eu com freqüência me falto.
Falto ao meus pensamentos nem sempre certeiros
(Flecha que erra o alvo)
E, às minhas convicções parcamente precisas,
Falto.

Falto a tudo que me define.
Escapo.
Falto aos meus melhores momentos
aos eventos mais importantes.
Me guardo.

Falto, como sempre faltei a tudo.
Falto aos meus amigos, mesmo os mais queridos.
E falto ao lado de meus pais nas fotografias.
Falto na memória dos meus ex-amantes,
e ainda nos registros oficiais eu falto.

E mesmo que estivesse presente, não faria falta.
É como disse.
Sempre faltei a tudo. Se acostumaram sem mim.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

"A chuva de retas paralelas sobre a terra curva."
(Arnaldo Antunes)

quarta-feira, 11 de julho de 2007

No deserto é assim.

Lá fora, o sol implacável
E aqui dentro, tantos temporais.
Tantas águas me encharcando a alma
Cercada dessa pele tão seca.

No deserto é assim:
Chovem os sentimentos das pessoas
Dentro delas mesmas – fora, não.

E eu, na amargura seca dessa terra estrangeira,
Penso nos versos imaginados pelas mudas mulheres das areias
Levados para longe pelos ventos mornos e incômodos.
Tão lindos, os versos perdidos.

No deserto é assim:
A poesia é pensada e esquecida.
Rabiscos sentimentais facilmente ofendem o Corão.

Então trovejo minha voz silenciosamente
E escondo meus relâmpagos no mais escuro de mim.
E torço que não vejam meus clarões indignados
Enquanto sorrio como sorriem aqui.

No deserto é assim.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Minhas Mágoas

Eu guardo minhas mágoas como quem guarda tesouros.
Pobre de mim, que não sei jogar fora meus trapos,
Meus guardanapos usados,
Meus silêncios sem fim.

Eu guardo minhas mágoas como se fossem comida,
Provisões para o tempo da guerra.
Guardo, como quem teme a fome.
Como o cão abandonado durante a fuga.


Eu guardo minhas minhas mágoas como quem se protege da chuva,
nos barracões abandonados da cidade vazia.
Guardo, como quem se protege do frio,
do escuro, do medo e da morte.
Chove. Que fiz eu da vida? Fiz o que ela fez de mim
(fernando pessoa)